sexta-feira, 18 de junho de 2010

RETRATOS ERRÁTICOS

por Liliane Pelegrini

fotos e vídeo por Élcio Paraíso



A anedota é antiga, mas tem lá seu fundamento: o jornal de hoje é o embrulho do peixe de amanhã. Em tempos de internet, a ironia ganha contornos mais fortes. A efemeridade característica do texto jornalístico, porém, não incomodou o jornalista mineiro Regis Gonçalves, nem no sentido de guiá-lo nem de inibi-lo. Na corda-bamba entre as necessidades da imprensa diária e um estilo de escrita que flerta com a literatura, Gonçalves encontrou nas entrevistas e nos perfis biográficos forma de burlar a data do cabeçalho e produzir instantâneos que, a despeito de fixarem uma época, não perdem a validade, ao contrário, se tornam uma categoria de documentos não perecíveis. É uma seleção de textos cujo mérito é a atemporalidade que o jornalista reuniu em Retratos erráticos – Imagem, perfil e personagem na imprensa, com lançamento marcado para amanhã, 19 de junho, a partir das 10h, na Livraria Quixote, em Belo Horizonte. O volume sai pela Oiti Editora e Comunicação e foi produzido com os recursos do Fundo Municipal de Incentivo à Cultura, da Prefeitura de Belo Horizonte.

Escritores, pensadores, artistas, enfim, que se destacam como exemplares nos seus campos de atividade estão perfilados na publicação. A poesia e a prosa de Adélia Prado; o legado do historiador Francisco Iglésias; a língua afiada de Décio Pignatari; o miúdo gigante Manoel de Barros; o pensamento amplo e brilhante de Silviano Santiago... Ao todo, 39 textos foram pinçados do volumoso arquivo de reportagens assinadas por Regis Gonçalves. Ele pessoalmente cuidou de abrir seu baú de histórias e – como faz questão de ressaltar –, o trabalho de seleção dos textos que integram Retratos erráticos foi braçal, de imersão, pesquisa e revisão.

O escritor português José Saramago, falecido hoje, aos 87 anos, em Lanzarote (Ilhas Canárias, na Espanha), está um dos personagens de Retratos Erráticos. Regis Gonçalves entrevistou Saramago em 2000, quando de sua terceira visita ao Brasil – "como figura pública conhecida, pois já havia estado antes", ressaltou então o português.

Um ano antes, em 1999, Saramago havia recebido da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) o título de doutor honoris causa. "Não é que me recebam mal em outros lugares, ao contrário, mas no Brasil esta é uma região das mais cordiais. Tenho recordações de grandes momentos, das conferências, mas também de outros, como a primeira vez que fui a Congonhas, Tiradentes e Ouro Preto – a única cidade portuguesa do século XVIII. Isso emociona-me muito", declarou, à época, Saramago a Regis Gonçalves, na entrevista que aparece na página 155 de Retratos Erráticos.

A notícia da morte do escritor português trouxe ao jornalista memórias daquela conversa. "Saramago é um de meus autores favoritos. Ele me conquistou com O Evangelho Segundo Jesus Cristo, um empreendimento ficcional que se ombreia com os clássicos da literatura universal. Sua escrita é um tanto rude e por isso alguns o acusam de falta de refinamento. Mas ele escrevia com um olhar posto na realidade e outro no sonho”, comenta Gonçalves.

Sobre a entrevista, o jornalista recorda: “Falei com ele por telefone, quando veio para lançamento de A Caverna. A editora preferiu agendar horários diferentes para os jornalistas interessados, em vez de uma coletiva. Ele estava em São Paulo e foi extremamente simpático e generoso, respondendo a todas as minhas perguntas, apesar do cansaço evidente. Lamento muito sua morte, pois esperava que ele nos desse ainda muitas obras com o seu selo de qualidade", narra Regis Gonçalves.

LANÇAMENTO "RETRATOS ERRÁTICOS"
Quando: amanhã, dia 19, das 10h às 14h
Onde: Livraria Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi, Belo Horizonte)

REGIS GONÇALVES



REGIS GONÇALVES


REGIS GONÇALVES



REGIS GONÇALVES



REGIS GONÇALVES



Um comentário:

Carol Godoi disse...

Oi Casal, adorei a matéria e as fotos. Parabéns pelo bom gosto. Beijos.